ESCHER EM SÃO PAULO (2011)

 Marcelo Guimarães Lima


foto: Marcelo Guimarães Lima



O Mundo Mágico de Escher

19 Abril a 17 Julho, 2011

Centro Cultural do Banco do Brasil - São Paulo


O paradoxo de um espaço delimitado, restrito ou confinado e, ao mesmo tempo, multiplicado - o infinito não como o ilimitado, mas como adição contínua de figuras ou elementos discretos, é o paradoxo do espaço em Escher, que nos remete à experiência singular da vertigem unida à... claustrofobia.

Sabemos que a forma geométrica é sempre o resultado de operações sistematizadas, de transformações das figuras. Assim, a imagem em Escher, na sua geometria trans-formativa, nos remete ao paradoxo das equivalências e da multiplicidade, das reversões, circularidades e continuidades espaçotemporais ali onde a experiência comum apenas vislumbra o discreto, o sentido ou a trajetória única e o descontínuo ou isolado, e vice-versa.




Relatividade, 1953,  litografia, 29,1 x 29,4 cm

© The M.C. Escher Company B.V. Baarn, The Netherlands



As artes gráficas são as artes das superfícies ou dos planos. Sobretudo em algumas das litografias de Escher, elas adquirem uma densidade e presença análogas às da pintura. As artes gráficas (gravura, litografia, água-forte, aquatinta, xilogravura e técnicas ou disciplinas complementares) são artes de planos superpostos que transfiguram as luzes e as superfícies em transparências resultantes do diálogo entre sombras e luzes em tensões complementares e equilíbrios variados. Vistos na penumbra da sala de exposições do Centro Cultural do Banco do Brasil em São Paulo, estes cinzas e negros adquirem uma espécie de vibração quase “musical”. A questão dos ritmos visuais é, sem dúvida, central em Escher e se relaciona com as questões centrais da imagem e da representação.



Dia e noite, 1938, xilogravura, 39,2 x 67,8 cm

© The M.C. Escher Company B.V. Baarn, The Netherlands


Para o artista peculiar e “inatual” que foi o gravador holandês em seu tempo, a questão da obra de arte se distinguia das questões “puramente” ou focadamente estéticas para centrar-se na investigação estrutural e estruturante da imagem e da representação como portas de acesso ao ser e à realidade. Foi necessário ao criador Escher a tenacidade e, de certo modo, o isolamento e a constante reiteração de uma busca particular e balizada, com todos os seus eventuais percalços, para a produção, em seus melhores momentos, de uma visão poética original, isto é: uma estética própria, capaz de transfigurar processos representativos e questões formalizantes em obras de arte singulares portadoras de uma emoção única, por meio da qual o método e a medida podem se revelar como fundamentos da nossa relação sensível e senciente ao real e a nós mesmos.




Castrovalva, 1930, litografia, 53,6 x 41,8 cm

© The M.C. Escher Company B.V. Baarn, The Netherlands


São Paulo, a cidade – labirinto, é pano de fundo ideal para a visão em labirinto de Escher. O contexto espacial e arquitetônico do edifício do Centro Cultural do Banco do Brasil no centro de São Paulo, reformado em 1927, de formas “ecléticas” (ambíguas, amalgamadas, heterogêneas) entre o neoclássico e a art-nouveau, reafirma, na aparência, na configuração do espaço, ritmos e estruturas visuais, proporções e percursos, esta afinidade encontrada entre o artista e a cidade, em uma espécie de inusitado, discreto mas efetivo diálogo entre a obra de arte e a arquitetura.



foto: Marcelo Guimarães Lima



originalmente publicado em 2011 nos site Página Cultural (paginacultural.com.br)  e Malazartes.net




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